As ocupações do projeto Imagem Ocupada remontam a pesquisa “Fotografia e Movimentos Sociais: Políticas de Visibilidade na Cena Contemporânea” desenvolvida ao longo dos meus anos de mestrado na Universidade Estadual de Londrina(UEL).
Naquele momento os estudos das relações entre Imagem e Movimentos Sociais apareciam apenas em seu caráter instrumental, já que no inicio o objetivo era entender como os Movimentos Sociais contemporâneos faziam uso da fotografia para disputar os sentidos que organizam a sua visibilidade, bem como para construir seu repertório político-cultural de lutas, narrativas e representações.
Dada a natureza própria de qualquer processo de pesquisa os resultados levaram para um conjunto de compreensões que foram muito além daquilo que antes tinha sido planejado. Os desdobramentos da pesquisa levaram para uma reflexão renovada sobre a natureza dos movimentos sociais compreendido desta vez em mundo hegemonizado pela linguagem visual. Do mesmo modo, a utilização do debate do campo do pós-estruturalismo e do referencial teórico e metodológico das teorias do discurso promoveram uma renovação na forma de compreender a natureza das imagens técnicas. Em uma espécie de jogo relacional a discussão sobre os Movimentos Sociais foram ocupados pelo debate da imagem técnica do mesmo modo que a Fotografia foi ocupada pela compreensão da atualidade dos MS.
Dessa forma, a dissertação “Fotografia e Movimentos Sociais” transformou-se na primeira ocupação de um projeto que tornou-se algo bem maior. Para além de uma compreensão epistemológica onde o objeto formula teorias para sua compreensão temos aqui um esforço diferente. Longe de qualquer objetividade e neutralidade os Movimentos Sociais e as Imagens técnicas são categorias que estão em disputa, o esforço teórico de sua definição não deixa de ser outra coisa senão uma ocupação.
Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo investigar o problema das políticas de visibilidade como o conjunto de intervenções organizadas pelos movimentos sociais de modo a construir a visibilidade para os seus projetos político-culturais. Para tanto, foi promovida uma abordagem que procurou elaborar momentos distintos de pesquisa que vão desde ao estabelecimento de um arranjo teórico-metodológico à análise das imagens produzidas pelos movimentos sociais em questão. No primeiro desses momentos procurou-se fazer uma incursão em meio ao debate contemporâneo sobre os movimentos sociais a fim de situá-lo enquanto um fenômeno que se estabelece em um campo de determinações midiatizado, onde prevalece a hegemonia de uma sensibilidade visual. No segundo momento tornou-se necessário entender o espaço onde se constroem as determinações dessa hegemonia a partir da construção de uma teoria do discurso cujo aparato conceitual é operacionalizado para compreender a imagem fotográfica. Tal teoria exigiu estabelecer o problema da visibilidade através do entendimento da imagem técnica como um jogo político que tanto governa as ações dos movimentos sociais quanto é permanentemente deslocada por eles. Fazendo com que suas regras sejam definidas em um nível discursivo, de acordo com a contingência das relações de poder que atuam em meio aos conflitos estabelecidos. Para os movimentos sociais tais relações visam garantir a disputa política dos sentidos através da visibilidade do seu protesto e na luta pela definição das possibilidades de sua interpretação. No terceiro momento os esforços de pesquisa se voltaram a construir um arranjo metodológico cujas ferramentas permitiram analisar o discurso das imagens, a fim de identificar sob a superfície das fotografias as relações de poder que são construídas a partir do embate travado entre os movimentos sociais e os seus antagonistas. Por fim, no último momento foram analisadas imagens de quatro experiências distintas dos movimentos sociais: as imagens da Comuna de Paris, da organização ambiental Greenpeace, do grupo feminista Femen e das Paradas Gays. Cada qual foi analisada como formas diferenciadas de atuação das políticas de visibilidade de modo que a abordagem das práticas exercidas por essas experiências permita reconhecer os arranjos discursivos que constroem as possibilidades de tornar visível, através de um modelo de representação contra hegemônico, os projetos dos movimentos sociais em meio à cena política contemporânea.
SUMÁRIO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 O Campo das Políticas de Visibilidade
1.2 Uma proposta de abordagem para o problema das Políticas de Visibilidade2. MOVIMENTOS SOCIAIS NA CENA CONTEMPORÂNEA
2.1 A Emergência dos Novos Movimentos Sociais
2.2 Novos Movimentos Sociais como Paradigma Visual3. IMAGEM E DISCURSO
3.1 A Fotografia como Problema Epistemológico
3.2 A Imagem e semelhança do Dispositivo Fotográfico
3.2.1 O Nascimento do Dispositivo Fotográfico
3.2.2 O Discurso do Dispositivo como Discurso da Fotografia3.3 A Desconstrução da Imagem Fotográfica
3.3.1 A Imagem através de uma Genealogia do Platonismo3.4 O Pós-fotográfico como Paradigma Visual
3.5 Economia do Discurso Visual
3.6 Fotografia e Desejo: a Esquize da Imagem Pós-fotográfica
3.6.1 A Pulsão Escópica na Construção do Olhar Moderno
3.6.2 A Esquize da Imagem Técnica
3.6.3 Esquizofrenia e Imagem Pós-fotográfica3.7 O Grau Zero da Visibilidade
4. ANÁLISE DE DISCURSO DE IMAGENS FOTOGRÁFICAS
4.1 Origens e Filiações da Análise de Discurso
4.2 Princípios Teóricos da Análise do Discurso
4.3 Ferramentas Metodológicas para uma Análise do Discurso
4.4 O Meio é a Mensagem: Fotografia e Materialidade do Discurso
4.5 A Construção do Corpus de Pesquisa: Novos Movimentos Sociais5. FOTOGRAFIA E DISCURSO NAS POLÍTICAS DE VISIBILIDADE
5.1 Introdução a Estética dos Movimentos Sociais: A Comuna de Paris
5.1.1 A revolução
5.1.2 Diante dos olhos: a emergência de um sujeito
5.1.3 Fotografia e Identidade
5.1.4 A imagem como panfleto visual
5.1.5 A guerra das imagens
5.1.6 Imagens da Resistência5.2 A Visibilidade Radical no protesto contemporâneo do Greenpeace
5.2.1 Estética dos Novos Movimentos Sociais
5.2.2 O Discurso Visual do Greenpeace
5.2.3 Dissidências nas Políticas de Visibilidade: o protesto do Sea Shepherd5.3 As Imagens do Protesto do PETA
5.4 O Discurso do Corpo na atuação do Femen
5.4.1 Corpo e Protesto nas Políticas de Visibilidade5.5 Política e Carnaval nas Paradas Gays
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Referências:
Biblioteca Digital Universidade Estadual de Lodrina
Revista Discurso Fotográfico, v. 9, n. 14 (2013)